A história que nunca tive tempo de contar ⏳
Report trimestral para refletir sobre o tempo, a consistência e o que realmente constrói uma marca.
Fundei a A27 aos 18 anos, em 2017, depois de seis anos – sim, comecei aos 12 – me envolvendo com criações para amigos e família e depois de quase dois anos de uma experiência societária digna de filme. Daqueles que o final é revelador, e o vilão sai de cena sem ninguém saber para onde, pronto para um segundo filme ou uma franquia interminável.
Isso foi no dia 16 de abril de 2017. No dia seguinte, 17, apesar das mensagens vindas de todos os lados e daquele sentimento horrível de ter sido coadjuvante em um filme de terror, fui trabalhar normalmente.
Nossa sala ficava dentro da empresa da minha família. Arranquei o logo da parede e da porta e comecei a idealizar o que viria a ser a A27.
Sempre gostei de empreender. Aos 10 anos, criei o A Hora da Virada – O Jornal Que Liga Você, um periódico que contava com assinantes, classificados reais, colunistas, patrocinadores e relatava os últimos acontecimentos do meu mundo – que, na época, se resumia ao sítio onde morávamos.
Meu pai, aventureiro nesses assuntos, diagramava as edições, que saíam semanalmente, sem falhas. Para mim, era um sucesso absoluto.
Antes disso, aos 9 anos, sem qualquer pretensão, escrevi Diário de uma Cavalgada, narrando as aventuras da minha primeira grande cavalgada, em homenagem ao tio Flor Magalhães, de Dom Pedrito a Livramento. A ideia surgiu da provocação da minha professora Vanessa: Pode faltar aula, mas anota as experiências para contar depois.
O livro só aconteceu porque minha família e os Cavaleiros da Paz me incentivaram. Lançamos na Feira do Livro de Porto Alegre, e, segundo os organizadores da época, a sessão de autógrafos só perdeu para a da Martha Medeiros.
Verdade ou não, foi um orgulho imenso. Era um livro meu, mas só existiu porque meu pai estava ao meu lado, ajudando a escrever e tornar real.
Meu primeiro site veio nesse mesmo período. Meu pai chegou de viagem e, orgulhoso, apresentei-lhe o incrível novo site da empresa da família. Para quem não tinha nada, aquilo era uma revolução.
Minhas primeiras criações foram colagens de fotos no PowerPoint, depois vieram logos esboçados em programas que eu mal conhecia. O curioso? O software que eu usava não salvava arquivos editáveis, apenas PNG ou JPG. Se pedissem ajustes, eu refazia tudo do zero. Só depois descobri que a versão paga permitia edições.
Assim fui me virando, criando logos, cartazes, artes para revistas e até esboçando aplicativos. Se eu podia imaginar, tentava criar.
E o tempo passou. Voltamos ao outono de 2017, quando, de fato, a A27 nasceu. Conto essa parte da minha história não para falar sobre mim, mas para falar sobre tempo e consistência.
A A27 que imaginei há quase oito anos era completamente diferente da atual, mas a essência segue intacta: fazer diferente, sem amarras ao que já existe.
Como escreveu Paulo Mendes Campos, em 1965: O nosso medo contemporâneo tem dois nomes genéricos: se é pouco, chama-se ansiedade; se é intenso, chama-se angústia.
A frase soa tão atual quanto o sentimento. Temos medo de não ter tempo. Temos medo de demorar tempo demais. Tememos demorar para olhar o celular. Julgamos o tempo de resposta. Comentamos, curtimos, postamos, enviamos, compartilhamos. O tempo todo. Perdemos histórias. Desvalorizamos o que, no fundo, é nossa maior prova de existência: o tempo.
Por que marcas de luxo são o que são? Porque suas histórias resistiram ao tempo.
O sucesso não está na pressa. Ele está na consistência. Mas vivemos em um mundo onde ninguém quer esperar. Nem para uma reunião, nem para um almoço, nem para um livro, nem para um curso, nem para um evento, nem para um momento, nem para o sucesso.
O presente foi substituído pelo futuro. E o passado, pelo esquecimento.
E, voltando ao nosso mundo de branding, as marcas que não entenderam que a consistência no discurso e no posicionamento permanecem sendo um dos ativos de maior valor, temem durar tanto quanto um stories.
Daqui a um tempo, serão esquecidas. A busca por uma adaptabilidade a qualquer custo custou a vida delas como marca.
O segredo não está em correr contra o tempo, mas em fazer dele um aliado. Em um mundo que muda constantemente, é preciso se adaptar, mas sem perder a essência.
Não se trata de seguir todas as trends, mas de construir algo sólido e significativo. Porque, no fim das contas, as tendências passam, mas o propósito fica. E é isso que separa quem deixa um legado de quem apenas atravessa o tempo sem deixar marcas.