Nighthawks (1942), de Edward Hopper 🌃
O isolamento e a solidão da vida urbana.
Essa é a primeira edição da PIRA27. Embarcamos juntos em nossa viagem por meio do tempo e espaço da cultura. Aqui você encontrará tópicos de arte, design, cinema, filosofia e muito mais 🤯
Fiquem conosco e vamos além!
Imagine-se caminhando pelas ruas vazias de uma cidade ao entardecer, onde sombra e luz se unem para criar uma paisagem quase cinematográfica. Este é o universo de Edward Hopper (1882-1967), um dos grandes pintores do realismo americano.
Nascido no estado de Nova York, Hopper capturou como ninguém a essência da solidão e da introspecção urbana. Ele transformou cenas cotidianas em profundos estudos psicológicos e emocionais, revelando a beleza escondida nas rotinas mais comuns.
Hopper iniciou sua jornada artística no New York Institute of Art and Design, onde começou a desenvolver seu estilo. Em 1905, começou a trabalhar meio período em uma agência de publicidade, projetando capas para revistas especializadas.
Sua persistência como artista independente foi recompensada quando vendeu sua primeira obra aos 31 anos, marcando o início de uma carreira prolífica que o levaria a criar uma das mais importantes pinturas da arte americana: Nighthawks.
Do giz ao pincel 🤔
O ano era 1942 e o mundo estava imerso na Segunda Guerra Mundial. Enquanto seu país permanecia aflito com as notícias do ataque japonês à base naval americana de Pearl Harbor, Hopper realizava seus primeiros esboços daquela que viria a ser sua obra de maior sucesso.
Cada personagem, assim como a composição do cenário, foi pensado em muitos estudos preparatórios. Hopper esboçou diversas configurações para a cena, desde os efeitos das luzes, até as atitudes dos personagens.
Com um giz e uma caderneta em mãos, ele foi até uma lanchonete e captou um homem sentado em frente ao balcão. Observou como a luz batia em seu terno e como seu corpo pressionava a bancada. Em outro estudo, ele elaborou versões para a posição da mão da mulher.
No desenho final, o casal retratado se vira um para o outro com intimidade e o balconista se curva olhando para baixo. Ao pintar, Hopper fez o casal olhar para frente, como se imersos em devaneios distintos.
As mãos do casal também surgem na obra final, se tornando o ponto de maior proximidade entre eles, ao quase se tocar. O balconista, por sua vez, inclina a cabeça para cima, com um olhar que não se conecta com os outros.
Essas mudanças enfatizam o isolamento emocional dos personagens.
Outra alteração para a tela à óleo ocorre na perspectiva. Hopper levemente abre a cena, expondo mais o teto, o topo dos bancos e a bancada contínua que ultrapassa os personagens retratados.
Tour pela obra 👨🎨
O resultado de tanta preparação foi uma pintura icônica com uma atmosfera melancólica. Nighthawks (falcões noturnos, em português) retrata uma esquina quase vazia, frequentado por dois homens e uma mulher, além de um funcionário.
Cada um tem uma xícara de café, combustível para enfrentar a noite, cuja presença é denunciada pela iluminação do local. Um intenso brilho de luz emana das janelas para a rua.
A cafeteria preenche dois terços da pintura. A fachada nova-iorquina em estilo Art Déco não apresenta para o espectador uma porta de saída. A apreensão é acentuada pela fileira de lojas à esquerda, que age como barreira para manter a tensão dentro da moldura.
A sensação de incerteza e solidão invadem a cena.
Simplifiquei bastante a cena e tornei o restaurante maior. Inconscientemente, provavelmente, eu estava pintando a solidão de uma grande cidade. - Edward Hopper
Ressurgimento emocional 📱
Nighthawks foi comprada pelo Art Institute of Chicago, logo após sua conclusão, e rapidamente ganhou notoriedade. A pintura é frequentemente invocada como um comentário sobre a modernidade e solidão em ambientes urbanos.
A tensão psicológica transmitida por ela foi revivida recentemente durante a pandemia de Covid-19. O isolamento que as pinturas de Hopper capturam tão bem acabou por atingir muitos de nós.
Em decorrência desse período, a ARTECHOUSE, uma empresa que mistura arte e tecnologia, criou uma exposição imersiva chamada NHKS4220 Bar Illusion. Nela os visitantes podiam interagir com os hologramas da instalação e ver sua silhueta integrada a cena de Nighthawks. Os artistas disseram que viram um paralelo entre o mundo da pintura - a ansiedade e apreensão da Segunda Guerra Mundial - e o nosso.
Assim como os personagens de Nighthawks, muitos de nós já experimentamos momentos de introspecção em meio ao caos urbano. A capacidade de Hopper de transformar a rotina em algo emotivo e universal é o que torna sua obra atemporal.
A primeira viagem da PIRA27 se encerra aqui, mas nosso percurso está apenas começando. Prepare-se para mais descobertas incríveis e novas perspectivas nas próximas edições. Até a próxima!