Rivalidades da Arte: Banksy Vs Robbo 💣
O conflito que sacudiu o mundo subversivo do graffiti.
Rivalidades artísticas são tão antigas quanto o chiaroscuro. Do antagonismo entre os renascentistas Leonardo e Michelangelo, à recente batalha musical entre Drake e Kendrick Lamar, as disputas no mundo da arte sempre capturaram a curiosidade do público.
Banksy, o enigmático e reverenciado artista de rua, não escapou de arranjar inimizades com seus colegas. Especialmente um deles: King Robbo.
Descubra mais sobre o surgimento dessa rixa e seus desdobramentos nesta edição de Histórias Piradas, da PIRA27.
Duelo urbano 🥊
Ladies and Gentlemen, de um lado temos o artista de Bristol que ficou internacionalmente conhecido por suas obras provocativas: Banksy! Sua arte rapidamente transcendeu as ruas, sendo valorizada em galerias e leilões, navegando entre o ilegal e o mainstream.
No outro corner, o homem que deixou sua marca nos trens e muros de Londres, conhecido na cultura underground como um dos pioneiros do graffiti: King Robbo! Iniciou na street art nos anos 80 e com sua habilidade para pintar em lugares inacessíveis adquiriu o status de lenda na contracultura da cidade.
No mundo subversivo da arte de rua, eles se tornaram duas das figuras mais afluentes do movimento no Reino Unido. Para Robbo, o graffiti era uma forma de rebelião e expressão, um grande dedo do meio para a autoridade.
Não que para Banksy fosse diferente. Porém, enquanto Robbo era estigmatizado, a arte de guerrilha de Banksy conquistava o prestígio de galerias e celebridades. O que incomodou o cenário geral da street art britânica.
Ao passo que intervenções de outros artistas são removidas pelas autoridades, as de Banksy não apenas são mantidas, mas protegidas pelo poder público. Proprietários privados também se contentam quando ganham uma surpresa do artista e há até mesmo ofertas de compra e venda de seus muros e paredes.
A faísca inicial 🔥
Era meados dos anos 90 quando, de acordo com Robbo, ele conheceu Banksy no Dragon Bar, local alternativo em Londres frequentado por artistas urbanos de toda sorte. Um verdadeiro caldeirão criativo, que viu surgir ali nomes como Ben Eine e Invader.
Segundo conta, ao ser apresentado para Banksy, ouviu do artista de Bristol um "nunca ouvi falar de você". Ofendido, revidou com um tapa que fez cair os óculos do rival, seguido da resposta: "você pode não ter ouvido falar de mim, mas nunca vai me esquecer".
Essa história se tornou conhecida apenas muito tempo depois. Já era o ano de 2009, quando Robbo a contou para o livro London Handstyles, documento que resgatava os grafiteiros da cidade.
Ele ainda acrescentou: “Se não fosse por pessoas como eu que começaram a fazer graffiti em Londres, ele não estaria ganhando todo o dinheiro que ganha hoje em dia”.
Banksy negou o episódio.
A Guerra do Graffiti 🆚
Àquela altura, King Robbo já estava aposentado da sua vida subversiva. Após conquistar o respeito da cena local por grafitar todas as regiões da cidade nos anos 80 e 90, ele abandonou essa prática para cuidar de seus filhos e da sua vida particular.
A arte de rua por sua natureza é temporária. Pouco a pouco, as marcas de Robbo foram sumindo dos muros da cidade. Havia restado apenas um, o Robbo INC, um graffiti que havia sobrevivido 25 anos nas margens do Regent's Canal, no centro de Londres.
Dois meses após o lançamento do livro com as declarações de seu algoz, Banksy não tardou em retaliar. Ele pintou sobre a arte de Robbo, deixando apenas fragmentos visíveis.
Para muitos, foi um ato de desrespeito. Além da historicidade do graffiti, o código de ética da street art tem como uma de suas principais regras nunca modificar a obra de outro artistas sem a permissão dele.
A violação dessa regra não escrita iniciou uma guerra. O rei do graffiti estava de volta ao jogo para se vingar.
O conflito não se limitou ao muro do Regent’s Canal, ele se espalhou pela cidade. Robbo e seus seguidores, denominados como Team Robbo, modificaram várias obras de Banksy. A disputa e a repercussão escalaram.
Nas manchetes 📰
A mídia logo soube da rivalidade. De repente, os murais de Londres se tornaram o centro das atenções, artigos no The Guardian e The Times relataram cada movimento dos artistas, enquanto fóruns online fervilhavam com discussões acaloradas.
A disputa levantou questões sobre respeito e propriedade na arte de rua. A violação e Banksy era tão grave assim? Ou a batalha era uma evolução natural e dinâmica da arte urbana?
Em 2011, um documentário do Channel 4 reacendeu as chamas do conflito. Banksy acusou a emissora de distorcer os fatos, afirmando que o programa não retratava com precisão os eventos e suas motivações. Robbo, por outro lado, aproveitou a oportunidade para expressar sua frustração, consolidando ainda mais sua imagem como o rebelde injustiçado.
Final trágico 😢
Ironia ou não, o conflito gerou mídia para ambos. Robbo, que já era uma lenda underground, viu sua notoriedade transbordar para o mainstream.
Galerias passaram a ter interesse em expor suas obras. Seria a chance de receber por algo que nunca foi recompensado financeiramente. Ele estava empolgado com a possibilidade, mas um final trágico impediu seus planos.
A guerra das latas de spray se encerrou em 2011. Há 5 dias de sua estreia em uma exposição, Robbo sofreu um acidente na escada de seu apartamento que o deixou em coma.
Durante seu período de recuperação, Banksy prestou homenagem a ele, sinalizando trégua e respeito. Robbo nunca recuperou sua consciência e faleceu em 2014.
Banksy continua a capturar a atenção global com suas intervenções provocativas. Embora não perdoado pelos apoiadores do rival, ele voltou a prestar tributo em outras ocasiões.
A memória de King Robbo vive em homenagens pelas ruas da Inglaterra. Mesmo na arte urbana, em que o efêmero é a realidade, os artistas podem deixar marcas duradouras.