Era um dia comum na The Factory, estúdio de Andy Warhol localizado na famosa Manhattan, em Nova York. Por lá, passavam diariamente artistas variados, em uma lista que vai desde modelos e grafiteiros a músicos e cineastas.
O ambiente fervilhava de criatividade, excentricidade e, claro, um toque de caos organizado. Nesse cenário vibrante, qualquer coisa poderia acontecer – e geralmente acontecia.
Então, imagine a cena: uma artista performática entra, saca uma pistola e, com a mesma facilidade com que alguém pede um café, dispara contra uma série de retratos de Marilyn Monroe. Parece uma comédia de absurdos, mas foi exatamente isso que aconteceu com The Shot Marilyns.
Nesta semana, vamos explorar a fascinante trajetória de Andy Warhol e como a obra The Shot Marilyns encapsula a essência da cultura de celebridades. Descubra o impacto dessa obra e suas curiosidades nesta edição da PIRA27.
Um artista pop 📺
De origem humilde, desde jovem Warhol se mostrou fascinado pelo glamour e pelas celebridades, um interesse que moldaria grande parte de sua obra. Ele começou sua carreira como ilustrador de revistas e publicidade em Nova York, onde rapidamente se destacou por seu estilo inovador.
Seu talento logo chamou a atenção, e ele se tornou um dos artistas comerciais mais bem-remunerados da cidade. Mas Warhol tinha ambições maiores. Ele queria não apenas retratar a cultura pop, mas também redefini-la.
Seu estúdio, The Factory, se tornou um epicentro de criatividade e experimentação, atraindo uma eclética mistura de artistas e celebridades. Suas obras, caracterizadas por cores vibrantes e a repetição de imagens, capturavam a essência da cultura de massa e do consumo.
A Pop Art, movimento do qual Warhol foi um dos principais expoentes, emergiu nos anos 1950 na tentativa de criar uma arte para todos. Warhol transformou objetos banais em ícones imagéticos, desafiando as noções tradicionais de beleza e valor artístico.
Replicando Marilyn 👱♀️
O artista abraçou a serigrafia, uma técnica de impressão que vinha sendo amplamente utilizada desde o início do século XX na produção têxtil. Essa escolha refletia a sua obsessão pela reprodução de múltiplas cópias de um mesmo produto, uma característica central da cultura de consumo.
Ele acreditava que, ao replicar incessantemente as imagens, poderia capturar a banalidade e onipresença de figuras populares. A série The Shot Marilyns, por exemplo, não só celebrava a atriz como um ícone de beleza e sensualidade, mas também simbolizava a fragilidade e efemeridade da fama.
Após a morte trágica de Marilyn Monroe em 1962, Warhol criou essas e outras obras em sua homenagem, refletindo sobre a adoração pública e a desumanização que a acompanhava. The Shot Marilyns consiste em diversos retratos serigrafados, cada um com cores vibrantes e contrastantes.
As imagens foram baseadas em uma fotografia publicitária de Monroe para o filme Niagara (1953). Warhol, inquieto pela fama e pela tragédia que cercavam a vida da atriz, explorou a dualidade da celebridade americana – ao mesmo tempo admirada e vulnerável.
Warhol reinterpretou a foto original, exagerando alguns elementos para criar uma paródia das noções tradicionais de beleza. Seu rosto assume a aparência de uma máscara, e seu cabelo se assemelha a uma peruca.
A sombra nos olhos e o batom aplicados de maneira intensa e desproporcional. A artificialidade da imagem é ainda mais destacada pelas cores planas e não naturais que o artista empregou.
Bang Bang! 💥
Era uma tarde qualquer na The Factory. Àquela altura, o estúdio do artista já estava acostumado a receber visitantes de todo o tipo.
No meio de uma variedade de personalidades, entrou Dorothy Podber, uma figura excêntrica que circulava por lá. Ao ver aquelas pinturas de Marilyn Monroe empilhadas no estúdio, ela perguntou casualmente se poderia atirar nelas.
Acontece que em inglês o verbo to shot pode significar tanto atirar quanto fotografar. Warhol imaginando que se tratava do segundo significado, autorizou que ela executasse sua vontade.
Ninguém poderia ter previsto o que viria a seguir. Em um episódio que poderia estar na seção de Histórias Piradas, a mulher, que também era uma artista performática, tirou sua arma da bolsa e disparou contra as obras.
Warhol consertou as obras danificadas, mas baniu Podber do estúdio para sempre. Apesar disso, o nome The Shot Marilyns pegou.
Dou-lhe uma... Dou-lhe duas... Dou-lhe três! 💰
Atualmente, as distintas versões da série estão espalhadas entre diferentes proprietários. A versão intitulada como Shot Sage Blue Marilyn foi destaque na mídia em 2022, ao ser leiloada por US$ 195 milhões.
Esse valor significou um novo recorde. Shot Sage Blue Marilyn se tornou a obra de arte mais cara do século XX já vendida. Nas palavras do próprio artista:
Os negócios são a melhor arte.